O inconsciente
Jung nos
lembra que o inconsciente só pode ser estudado por inferência (EVANS, 1979, p.327), pois não é possível
vê-lo, assim estudaremos como Jung e Freud constroem modelos de possíveis estruturas
inconscientes diferenciadas a
partir de suas experiências clinicas e pesquisas.
Para Freud o inconsciente recebe toda a
carga de repressões, conforme se nota na obra o ego
e o id quando diz que
“o reprimido é, para nós, o protótipo do inconsciente” (FREUD, 1997,p.13), ou
seja, o inconsciente originaria de um ato da própria pessoa. A repressão é um conflito entre um desejo violento e
aspirações morais e estéticas da própria personalidade e de certa forma é um meio de proteção da personalidade
psíquica. (FREUD, 1978, p.13)
Contrário a isso Jung nota que além da
repressão, há também casos em que o inconsciente não sofre repressão do ego (EVANS,
1979,p.327), Jung trabalha com a idéia de que nem toda carga do inconsciente é
herdada de uma repressão egóica aceitando que o inconsciente tem em si uma
autonomia, porquanto, tem mecanismos próprios que
faz com que se “movimente” na psique alheio a nossa vontade.
Jung defende a tese de que o inconsciente
se manifesta de diversas maneiras: símbolos, imagens, atitudes – enquanto Freud
irá privilegiar a manifestação do inconsciente pela
palavra. Freud se mantinha cético quanto a um inconsciente coletivo - conceito
que Jung desenvolve, anunciando que todo humano possui formas previamente
escritas em sua natureza biológica, e que estas se manifestam tanto individual quanto coletivamente.
Desta forma para Jung será possível se conhecendo estas formas prévias (que ele chama de arquétipos) reconhecer questões que a sociedade
está enfrentado (como foi o caso de Hitler, que seria o arquétipo do salvador) (EVANS,
1979, p.334)
Além da já citada discordância entre os
psicólogos há outra menos tênue, “[...] para
Freud, os conteúdos relevantes eram sempre de conteúdos traumáticos, de origem
sexual, que tinham sido elaborados pela consciência” (Taboada,
2007,p.168). Jung, por sua
vez, afirmava que nem sempre as cargas afetivas dos complexos tinham origem na
sexualidade, podendo sim a sexualidade uma das causas, mas sem nenhum
determinismo.
2 – A consciência e o ego, super-ego e id.
Temos que
o ego é em Freud, produto de uma frustração (complexo de Édipo) – já que a
realidade é imposta ao individuo, e o super-ego é a função restritiva do ego, a
que anuncia tudo o “que não pode ser feito”.
Para Freud: “’Estar consciente’ é, em primeiro lugar, um termo
puramente descritivo, que repousa na percepção do caráter mais imediato e
certo.” (FREUD, 1997, p.12-13). Soma-se a isso, que há dois objetos da
consciência, sendo eles: externos ou internos, exemplo: ao pressionar o dedo na
borda de uma mesa, você pode estar consciente da borda desta mesma mesa, e
consciente de sentir a pressão (Audi,2006, p.180), sendo este sentir-se o ego, porquanto, a pessoa é capaz de
perceber o mundo externo e perceber-se ( não necessariamente de forma
simultânea), resulta disso que, o
sujeito ciente das determinações e normatividades culturais, supervisiona suas
próprias ações se censurando, a isso cabe o nome de Superego. Ego este que em Freud chega
a um estágio em que ele está plenamente formado, enquanto para Jung “o
ego está continuamente se formando; jamais é um produto acabado- ele vive em
formação.”, surge na identidade com o corpo por isso continua a se desenvolver. ( EVANS,
1979, p.328)
O Id é em Freud o conjunto de impulsos
animais sob qual indivíduo nasce, eles são inconscientes e subdesenvolvidos, aparecem sob a forma de desejos
violentos. Jung comenta que não
se pode especular sobre a origem desses instintos, e que
eles estão aí, o que podemos é estudar os casos onde tais instintos não
funcionam. (EVANS, 1979, p.327)
3 – O inconsciente coletivo e o conceito de
arquétipo.
Outra distinção entre os dois
psicólogos é o conceito de
arquétipo, Freud dedica seus estudos esperando encontrar na história de
seus pacientes as origens das
patologias. Contrário a isso Jung dedica seus
estudos à fim de encontrar uma justificação para as mesmas tipologias em
diferentes culturas, a respostas disso não poderia ser outra coisa se não o
inatismo. Para Jung diferentes
personagens atuantes em diferentes culturas indicavam arquétipos como estruturas a
priori, atribuindo
ao homem certo padrão de comportamento. São
estes padrões internos
(arquétipos), chamado
inconsciente coletivo, certa herança biológico-funcional, explicitado através de contos míticos,
contos estes que apenas evidenciam certas tendências a
priori, o que
fica claro quando diz que “Os arquétipos são, ao mesmo tempo, dinâmicos. Eles
são imagens instintivas, não intelectualmente inventadas”.
Jung distingue um inconsciente pessoal
que estaria ligado mais com a vida imediata do individuo e conflitos pessoais,
deste inconsciente coletivo que
está ligado a problemas universais que é acessado quando o conflito traspassa a
esfera do pessoal e vai ao social. O conflito pessoal não atinge o inconsciente coletivo, porem no momento em que o
individuo passa a lidar com questões coletivas sua subjetividade acessa imagens
coletivas, o individuo pode ter então sonhos coletivos. (EVANS,
1979, p.332)
Os arquétipos aparecem de forma
espontânea, pois possuem força própria, embora não se possa contabilizar a
variedade de arquétipos é possível identificar quando uma pessoa está possuída
por um arquétipo. (EVANS, 1979, p.330)
Alguns arquétipos:
A Persona: Normalmente
caracterizada por máscaras sociais, o que se quer mostrar ao
outro. É por um lado aquilo que a
pessoa gostaria de ser ou simplesmente parecer, mas também se trata de
comportamentos ditados pela sociedade e desejos que o social impõe ao indivíduo.
Para Jung o problema aparece quando se
está inconsciente que esta
máscara não representa a realidade da subjetividade individual. A pessoa
confusa por possuir dois (ou
mais) modos de agir, ao entrar em
contato com essas contradições pode
sofrer neurose, dissociação, esquizofrenia.
A Sombra: Seria o seu lado “maligno” aquilo que o
indivíduo não quer ter parte, seriam os
aspectos rechaçados do si mesmo, as qualidades/defeitos que não queremos reconhecer.
Anima: O referencial do feminino, também
associado ao aspecto emotivo, irracional e intuitivo. Pode ser flagrado no
homem como a forma ideal de mulher.
Animus: O referencial masculino, também
associado ao aspecto racional e lógico. Também flagrado na idealização de
homem.
O anima e o animus são para Jung os arquétipos mais bem fundados, pois podemos “por as mãos nas suas
bases”. O fato de esta forma
arquetípica aparecer em ambos os
sexos é justificado por todos possuírem, em
diferentes proporções, ambos os gens masculinos e femininos. (EVANS, 1979, p.331)
Grande mãe: Amorosa mais terrível, é associada ao aspecto de fertilidade, cuidado e
poder.
Velho sábio: Seria responsável pela idéia de mestre,
uma autoridade sábia, uma liderança carismática, muitas vezes representados em
sonho por personagens como sendo:
filósofo, padre, guru.
Herói: O responsável por imortalizar a juventude pela morte precoce em um sacrifício
que salva a comunidade, associado à coragem,irreflexão e determinação.
Self: Enquanto
Freud se refere ao ego como apenas uma parte consciente do individuo, Jung
amplia a visão do o que é o individuo no arquétipo de Self. Este seria responsável pelo “si
mesmo”, arquétipo chave para Jung, pois
expressa a totalidade do indivíduo, das ações involuntárias do corpo aos aspectos
indescritíveis do homem. (EVANS,
1979, p.333-334).
Este aspecto estaria inteiramente
ligado com a felicidade do indivíduo em identificar a “si mesmo”,
o que pode ser expresso na célebre frase de Nietzsche na personagem Zaratustra (a quem Jung
dedicou um seminário por vários anos de duração): “torna-te quem tu és”. Estearquétipo
muitas vezes é confundido com o ego freudiano, mas é mais que isso, o ego é
aquilo que você sabe ser você mesmo, mas, quanto
ao self você só está consciente dele em certa medida (EVANS, 1979, p.333). O Self se serve de uma coisa atrás da
consciência, seria a personalidade global do homem, a qual como um todo é indescritível (EVANS, 1979, p.334).
Mandala: Esta
é uma forma arquetípica de organização interna que aparece em toda a face da
terra. A forma mostra a tentativa que todo homem faz em integrar suas
experiências objetivas e subjetivas, esta forma aparece de forma compensadora
em épocas de distúrbio apontando para uma possibilidade de ordem e
centralidade.
4 – Libido x Introversão-Extroversão
Para Freud a libido
é a força motriz concentrada na
pulsão sexual, e que daria movimento ao indivíduo desde a sua infância, fazendo
com que este sempre seja movido por um princípio de prazer. As ações inconscientes são para Freud resultados da repressão desta força
primitiva pelo super-ego.
Jung por
outro lado dirá que poderemos
agir baseados em estímulos do ambiente (extroversão) ou pelas condições
herdadas da psique (introversão), com isso ele não descarta a possibilidade de
repressão freudiana, Jung admite que ela existe no inconsciente pessoal, porem
o homem não se delimita a ela.
A psique junguiana é um mundo de imagens com
realidades próprias, são
formas de energia que se movimentam em fluxo constante no
interior do indivíduo. As ações individuais são influenciadas tanto pelo
exterior quanto pela subjetividade herdada, embora cada indivíduo mostre
predominância por um ou outro
aspecto.
As funções de introversão e extroversão
se relacionam com outras quatro funções que são: sensação
(se há algo), pensamento ( o que é), sentimento (se é agradável), intuição
(percepção não mediada). As quatro funções podem ser
experienciadas de modo introvertido ou extrovertido. Todos possiem essas quatro funções,
mas cada pessoa tem uma
função dominante, e uma função auxiliar parcialmente desenvolvida. As outras
duas funções são em geral inconscientes e a eficácia de sua ação é bem menor.
Quanto mais desenvolvidas e conscientes forem as funções dominante e auxiliar,
mais inconscientes serão seus opostos.
5 – Psicossomática
As pesquisas de Jung abrem campo para
os estudos psicossomáticos, ele anuncia que doenças físicas como ulcera ou
turbeculose podem ter origem ou serem intensificadas por algum complexo
psíquico. No caminho inverso as terapias somáticas/corporais puderam encontrar espaço, pois é
possível através de tratar o corpo cuidar dos aspectos subjetivos.
Jung também se pronuncia a respeito das
drogas, ele prevê acertadamente o consumismo
das drogas não-viciógenas, elas
interferem na psique causando dependência. (EVANS,
1979, p.336-337)
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