Depressão de adolescentes
Estrutura e suporte familiar como fatores de risco
A depressão pode ser considerada atualmente um dos principais transtornos de nossa época. Quando se pergunta como um indivíduo desenvolve a depressão, não se pode pensar em uma causa específica, pois como a maioria dos problemas humanos, é mais adequado falar em multifatores que se interrelacionam e geram, como respostas, alguns comportamentos que o indivíduo apresenta em seu meio. Sabe-se que a depressão pode ser influenciada, na sua etiologia e manutenção, por fatores biológicos/genéticos, psicológicos e sociais, dentro dos quais este artigo abordará, mais especificamente, os aspectos sociais, principalmente as influências na relação entre o suporte familiar e a depressão na adolescência. Desta forma, o clínico deve estar atento para todas, senão grande parte destas variáveis, com o objetivo de desenvolver um diagnóstico mais objetivo e preciso, além de realizar uma intervenção de ampla magnitude.
A depressão na infância e adolescência
Começou a ser mais estudada a partir da década de 60, porém não se pode afirmar que este transtorno não ocorresse na população antes disto. Até então, uma das discussões sobre a depressão infantil girava em torno da real possibilidade de crianças e adolescentes possuírem este quadro. Hoje em dia, com o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre transtornos de humor em crianças e adolescentes, não há mais dúvida de que a depressão atinge esta faixa etária, além de adultos e mesmo uma parcela razoável da população considerada de terceira idade (Kashani, Husain, Shekim, Hodges, Cytryn e Mcknew, 1981). Os transtornos do humor constituem um grupo de condições clínicas caracterizadas pela perda do senso de controle e uma experiência subjetiva de grande sofrimento, podendo-se observar perda de energia e interesse; humor deprimido; diminuição do desejo em realizar tarefas que antes causavam prazer (anedonia); problemas relacionados ao sono; perda de energia ou fadiga constante; dificuldade de concentração e diminuição na habilidade de pensar, além de dificuldades em tomar decisões; perda de apetite; baixa auto-estima; sentimentos de inutilidade ou culpa e pensamentos sobre morte e suicídio.
Todas esses sintomas acabam por comprometer a vida social, profissional e interpessoal do indivíduo (APA, 1994; Kaplan e Sadock, 1993). A depressão pode estar relacionada a problemas acadêmicos, problemas de ordem sexual, abuso de drogas, desordens de conduta, transtornos de ansiedade, déficit de atenção, pânico, desordens alimentares entre outros (Sadler, 1991), podendo ser considerada um transtorno com altos níveis de comorbidade, ou seja, outros transtornos associados (Biederman, Faraone, Mick e Lelon, 1995). A importância de se estudar a depressão em crianças e adolescentes é fundamental devido à possibilidade de evitar o desenvolvimento de maiores problemas ou transtornos futuros em fases posteriores, incluindo até mesmo o suicídio (Baptista e Assumpção, 1999 pp. 79-80). As crianças ou adolescentes que foram diagnosticadas como depressivas têm maior probabilidade de apresentarem transtornos de humor, e serem hospitalizadas em enfermarias psiquiátricas quando adultos. (Lewinsohn, Hops, Roberts, Seeley e Andrews, 1993; Harrington, Fudge, Rutter, Pickles e Hill 1990; Weissman, Wolk, Goldstein, Moreau, Adams, Greenwald, Klier, Ryan, Dahl e Wickramaratne, 1999).
Prevalência de Depressão em Adolescentes
A ocorrência dos transtornos depressivos é discutível, havendo grandes variações quanto a possível porcentagem de prevalência na população, bem como entre os sexos. Em relação a estas variações, pode-se citar também a diversificação de metodologia aplicada às pesquisas, bem como a dificuldade de padronização dos vários tipos de transtornos depressivos, além disto, a existência de diversas nomenclaturas (transtorno depressivo maior, transtorno distímico, episódio depressivo maior etc.) e graus (depressão leve, moderada e grave) acabam por dificultar números mais exatos em relação à prevalência de depressão na população em geral. Para Kaplan e Sadock (1993), a prevalência de depressão na população dos Estados Unidos é de 3 a 5%, porém o risco de depressão ao longo da vida é de 3 a 12% para os homens e 20 a 26% para as mulheres. A prevalência de transtornos afetivos em adolescentes é de aproximadamente 5% e, as mulheres são, em média, duas vezes mais afetadas que os homens, a partir da adolescência. Chartier e Lassen (1994) encontraram em uma amostra de 792 crianças e adolescentes, 8,3% de prevalência de depressão moderada, através da aplicação do Inventário de Depressão Infantil (CDI).
Fleming, Offord e Boyle (1989) encontraram, em uma amostra de 2852 crianças e adolescentes, três resultados em relação à severidade de sintomas de depressão, de acordo com o DSM III. No grupo com alto grau de severidade foi encontrado a porcentagem de 1.8% de adolescentes; no grupo com severidade média obteve-se 7.8% e, no grupo com severidade baixa, 43.9%. Vale ressaltar que em relação à variável sexo, somente houve variação significante no grupo de baixa severidade, ou seja, as mulheres como sendo mais atingidas. Bird, Canino, Rubio-Stipec, Gould, Ribera, Sesman, Woodburry, Huertas-Goldmam, Pagan, Sanches-Lacay e Moscoso (1988), pesquisando critérios do DSM-III relacionados ao mal ajustamento em crianças e adolescentes de 4 a 16 anos, observaram um índice de 5.9% da amostra com indícios de depressão e distimia. Poucas são as pesquisas no Brasil que exploraram a depressão em crianças e adolescentes. Em algumas delas pode-se observar dados coerentes com a literatura internacional. Baptista e Santos (1996) encontraram 7.84% de adolescentes (51 sujeitos), entre 14 e 17 anos, com sintomas clinicamente significativos de depressão, utilizando o Children Depression Inventory - CDI (Kovacs, 1992). Baptista (1997), encontrou em uma população de 113 adolescentes, 5,3 % com sintomatologia significativa de depressão. No mesmo sentido, Barbosa, Dias, Gaião e Lorenzo (1996), com o mesmo instrumento, porém adaptado para a população de João Pessoa, encontraram em 807 crianças e adolescentes, de 7 a 17 anos do interior da Paraíba, 22% da amostra ultrapassando o ponto de corte do instrumento, ou seja, apresentando sintomas significativos de depressão. Estes dados, apesar de limitados e utilizando-se metodologias diferenciadas, são preocupantes, já que retratam uma porcentagem relativamente grande de transtornos afetivos na fase da adolescência.
Adolescência
As diversas fases da vida, como a infância, adolescência, período adulto e terceira idade, são caracterizadas por algumas particularidades que proporcionam um maior entendimento na forma como as pessoas se comportam dentro de seus nichos sociais. A cultura, economia, política e a maturidade social nos diversos países, são alguns fatores que influenciam e predizem como os indivíduos se relacionam, pensam e agem durante estas fases.
A adolescência pode ser destacada por algumas características, como o desenvolvimento do autoconceito, auto-estima e de conceitos mais complexos. É uma fase caracterizada pelo aumento das responsabilidades sociais, familiares e, até mesmo, vista por um outro ângulo criminal, com a utilização do estatuto da infância e adolescência. Pode ser considerada como um período de grande aprendizagem de normas, conceitos sociais e morais, mesmo que às vezes sejam contrariados e violados no sentido da experimentação dos limites. Também é uma fase de acentuadas mudanças biológicas e hormonais, que proporcionam, muitas vezes dúvidas, inquietação e mudanças de comportamento em relação aos pares sociais (amigos) e família.
Segundo Windle (1992), a adolescência é um período da vida que envolve grandes mudanças e confrontações em vários níveis: a) mudanças biológicas (puberdade, aumento físico do tamanho); b) deveres psicossociais (criar relações íntimas com pessoas significativas, tomar decisões importantes) e c) mudanças no meio (transição do ginásio para o colégio).
O adolescente
O adolescente requer um difícil equilíbrio entre os diversos aspectos da maturação, o que nem sempre é atingido. A maturação neuro-endócrina, em geral, avança de forma coordenada, porém nem sempre o mesmo ocorre com o desenvolvimento emocional e social (Serfaty, Andrade, DÀquila, Masautis e Foglia, 1995). A fase da adolescência é marcada por algumas características, dentre elas, a maior capacidade de reconhecer alternativas nas escolhas e encontrar soluções através deste reconhecimento. Geralmente, esta característica é acompanhada pela tendência de questionar as autoridades (Zarb, 1992). Outras características que podem ser reconhecidas durante esta fase são: aquisição de independência dos pais e família; desenvolvimento do sistema de valores e aquisição de identidade própria; estabelecimento de relações efetivas com outros indivíduos da mesma idade, tendência de egocentrismo nos interesses e metas, além da preparação para a carreira profissional (Conger, 1977 apud Zarb, 1992; Belsher e Wilkes, 1994).
As novas relações sociais, que ocorrem principalmente na fase da adolescência, como as amizades, demandam reacomodações no adolescente, incidindo diretamente no seu estado emocional (González-Forteza e Palos, 1993). Segundo Fester (1973), o adolescente enfrenta um mundo complexo para o qual ainda não dispõe de um repertório adequado, pois as mudanças que o ambiente exige desta fase são em número muito grande, sendo a adolescência um período de aprendizagem de regras novas. Uma pesquisa longitudinal realizada por Lewinsohn (1993), com adolescentes de quatorze a dezoito anos, de nove escolas urbanas e rurais do Oregon, sobre a prevalência e incidência de depressão e outras desordens encontradas no DSM III-R, apontou que 33% dos adolescentes experimentaram alguma desordem ao longo de suas vidas (desordens do humor, fobias, desordens alimentares, e ou uso de drogas). Entre todas as desordens, foram encontrados maiores índices de depressão unipolar (18,3%). A adolescência parece ser uma das fases do desenvolvimento humano em que um grande número de mudanças ocorrem em um período de tempo muito curto, o que supõe uma certa preocupação em relação ao desenvolvimento de problemas ligados à saúde mental.
Algumas Características da Família
O conceito de família vem sofrendo grandes mudanças nas últimas décadas, acompanhando as tendências de desenvolvimento nos âmbitos econômico, tecnológico, político e cultural. No Brasil, principalmente após a entrada da mulher no mercado de trabalho, pode-se observar grandes transformações nos papéis familiares, relações de poder, valores individuais e coletivos, estrutura e capacidade de decisões referentes à família. Pruett (1995) fornece algumas indicações de transformações familiares ocorridas nos Estados Unidos, num período de não mais de 30 anos (a maioria ocorrida entre 1960 e 1987), que podem ser consideradas grandes mudanças na estrutura familiar em um espaço de tempo relativamente curto. Segundo a mesma autora, a porcentagem de adolescentes solteiras (15 a 19 anos) aumentou de 18% para 44%; a inserção de mulheres casadas com filhos de menos de 6 anos para o mercado de trabalho aumentou de 19% para 54%; de nove divórcios ocorridos em cada mil casamentos, este número em 1987 já era de 21 novos casos. De acordo com Papp (1992 p. 17), a família pode ser vista como uma junção de crenças nucleares, trazidas pelos genitores, formando premissas e diretrizes na gênese de regras que guiam a criança e ou o adolescente. A família é um grupo natural que através do tempo tem desenvolvido padrões de interação.
A estrutura familiar é constituída por esses padrões de interação, que por sua vez governam o funcionamento dos membros da própria família, delineando sua gama de comportamentos e facilitando sua interação (Minuchin e Fishiman, 1990). A família pode ser descrita como sendo um processo no qual ocorre o desenvolvimento psicológico do indivíduo, de um estado de fusão / indiferenciação para um estado de separação / individualização cada vez maior. Este ciclo é determinado não apenas por estímulos biológicos e pela interação psicológica, mas também por processos interativos no interior do sistema familiar. Igualmente, o curso da história futura do indivíduo pode ser prevista à base do clima emocional predominante na família de origem (Andolfi, Angelo, Menghi e Nicolo-Corigliano, 1984). Porém, nem sempre a família é bastante flexível para proporcionar este desenvolvimento, de acordo com as mudanças das contingências que ocorrem, principalmente na passagem da fase da infância para a adolescência.
Várias pesquisas objetivaram estudar as relações familiares e algumas características de adolescentes, bem como a influência da família na etiologia e manutenção de problemas pessoais, distúrbios e transtornos desenvolvidos ou acentuados na fase da adolescência. Dentre estes, pode-se citar: abusos de drogas e variáveis familiares (Denton e Kampfe, 1994); violência familiar associada à depressão, suicídio e abuso de álcool (Straus e Kantor, 1994; Oshiro, 1994); relação familiar associada com saúde mental e delinqüência (Pedersen, 1994); funcionamento familiar e performance escolar (Masselam, Marcus e Stunkard, 1990), além de outros. Pardeck, Brown, Christian, Schnurbusch, Shrum e Terrell (1991), realizaram um estudo para explorar as relações entre a estrutura familiar e a satisfação em viver, em estudantes colegiais, encontrando correlação entre famílias intactas (não separadas e morando em um mesmo local) e alta satisfação em viver ou bem estar psicológico nos adolescentes, porém, neste estudo não foram isoladas variáveis como nível sócio-econômico, coesão, comunicação, carinho entre os integrantes da família e outras variáveis que poderiam estar modificando os resultados.
Famílias intactas tenderam a favorecer maior estabilidade e afeto para seus filhos do que famílias reconstituídas ou divididas. Parish e Necessary (1994) concluíram que estudantes vindos de famílias em que houve divórcio, possuíam uma avaliação mais negativa de seus pais do que aqueles provenientes de famílias intactas. Da mesma forma, os pais provenientes de famílias intactas perceberam mais afeto de suas esposas e deles próprios em relação aos filhos, do que os pais de famílias reconstituídas ou pais divorciados. Em relação a estrutura familiar, a separação de pais e suas conseqüências para os filhos, foi citada em pesquisa realizada por Ribeiro (1989), em que esta situação pode representar perda da segurança e instabilidade quanto ao futuro para os filhos, ocasionando sentimentos negativos nos mesmos, além de influenciar no auto-conceito dos adolescentes, no que diz respeito à segurança pessoal, atitudes sociais e auto-controle. O autoconceito também foi demonstrado ser maior em adolescentes que moravam junto dos dois genitores, o que não ocorreu em indivíduos que moravam com apenas um dos pais (Ribeiro, 1988). Os adolescentes, cujos genitores eram separados, tenderam a citar características próprias de desorganização, distração, descontrole e desatenção. De acordo com Rosales (1993), em pesquisa associando auto-estima de adolescentes com famílias intactas, uniparentais e reconstituídas, detectou-se que a auto-estima dos adolescentes era proporcionalmente variável com a funcionalidade da família em que estes estavam inseridos; porém não foi acusado esta proporcionalidade em relação ao tipo da família (intacta, uniparental ou reconstituída), mas sim à funcionalidade desta. Sendo assim, jovens adolescentes provenientes de famílias funcionais tinham um nível de auto-estima significativamente mais alto dos que provenientes de famílias disfuncionais. Com relação a representação social da família entre jovens, Chaves, Botelho, Andari, Santos e Maranhão (1993) realizaram um estudo abordando relações interpessoais, os papéis dos membros da família, o significado destes papéis para o adolescente e a concepção de família entre jovens estudantes baianos, de 15 a 22 anos de idade. Os resultados de adolescentes estudantes de escolas públicas demonstraram que 54% raramente ou nunca conversavam com seus pais sobre suas dificuldades. As mães são, para a maioria dos sujeitos, as responsáveis pela educação. Para 89% dos jovens, a família é sinônimo de união, confiança e apoio; no entanto, 37% das meninas gostariam que houvesse mais diálogo na relação familiar.
Quanto à adolescentes de escolas particulares, apenas 8% consideraram suas próprias famílias como ideal, porém todos os sujeitos acreditavam ser a família indispensável. Os autores ainda discutem os indícios de uma educação baseada no autoritarismo, na qual prevalece o controle dos pais sobre a liberdade dos filhos. Estes dados fornecem um panorama, ainda que limitado pelo tamanho da amostragem (97 estudantes), de algumas características da representação que o adolescente faz de sua família, porém não devem ser generalizados e, sim pesquisados mais profundamente. Os dados também levam a questionar se os pais realmente estão preparados para enfrentar e discutir, de forma democrática e madura, os problemas enfrentados por seus filhos, ou mesmo até que ponto realmente há a discussão destes problemas e o favorecimento de um clima onde o adolescente se sinta livre para conversar sobre suas dificuldades e optar, consciente das conseqüências, pelas suas escolhas. Sendo assim, pode-se pensar na possibilidade de haver coerção nas famílias, ao contrário da capacidade dos genitores, em expor e esclarecer as conseqüências dos atos e deixar a decisão para os filhos, ou mesmo decidir os problemas em conjunto. Talvez os pais não consigam propiciar, paulatinamente, senso de responsabilidade para o adolescente, que possivelmente é ainda visto como uma criança (Baptista e Assumpção Jr, 1999 p. 32). Suporte Familiar Por estrutura familiar pode-se entender a quantidade de pessoas que moram na casa e suas respectivas funções, o fato dos progenitores estarem vivos ou ter havido óbito dos mesmos, divorciados, separados ou dividindo moradia com outros parceiros, dentre outras características. Porém, o suporte familiar engloba outras características, nem sempre palpáveis ou de fácil mensuração. A noção de bom suporte familiar ou mais adequado, nem sempre depende exclusivamente da estrutura familiar, ou seja, do esqueleto social do qual a cultura dita como sendo ideal (pai, mãe e irmãos morando em um mesmo local com suas funções econômicas e familiares pré-definidas).
Uma das dificuldades encontradas em se trabalhar com o termo suporte familiar, é que este é muito abrangente e envolve diversas variáveis presentes nas relações familiares. Vários autores definem o suporte familiar de diferentes formas, utilizando diferentes abordagens teóricas para sua sustentação. Sendo assim, é necessário uma pequena discussão abrangendo as diversas definições e variáveis presentes no suporte familiar. Procidano e Heller (1983), por exemplo, através de um estudo de validação de sua escala de suporte social proveniente da família, encontraram correlação negativa entre suporte social familiar e depressão. Os mesmos autores comentam que o suporte social vem sendo explorado de forma intensa nos últimos anos, porém tem-se observado conceituações vagas sobre o mesmo. Sendo assim, na definição utilizada pelos autores, algumas variáveis inseridas dentro do suporte familiar foram: a provisão de informações, conforto, suporte emocional proveniente da família e outros. Barrera, Sandler e Ramsay (1981), que também desenvolveram uma escala de suporte social que pode ser dirigida à família, definiram-no como o auxílio natural ou vários tipos e formas de assistência que a família, os amigos, os vizinhos e outros, propiciam ao adolescente.
Alguns exemplos são citados como: contato físico em situações de desconforto, valorização de atitudes, conselhos fornecidos, expressão de sentimentos e outros. Parker, Tupling e Brown (1979), definiram suporte familiar baseados em duas classes importantes para a construção de seu instrumento, que propõe estudar a relação existente entre pais e filhos e, principalmente entre mães e filhos. Estas duas classes relevantes foram: a) a dimensão carinho versus rejeição e indiferença e b) superproteção ou controle versus a permissão para a autonomia e independência dado aos adolescentes pelos seus pais. Para estes autores, o suporte familiar é considerado ótimo, quando houver na família altos níveis de carinho e permissão para autonomia e independência. A Relação entre Suporte Familiar e Depressão em Adolescentes Lovisi, Milanil, Caetano, Abelha e Morgado (1996) comentam que o suporte social, incluindo o suporte familiar, tem o objetivo de atenuar os efeitos de eventos estressantes do cotidiano. sendo assim, aqueles que teriam a ausência do suporte social ou familiar, estariam mais predispostos a apresentarem um distúrbio psicológico/psiquiátrico quando submetidos a eventos estressantes. Krause, Liang e Yatomi (1989) sugerem que as desordens psicológicas e, particularmente, os sintomas depressivos, podem ser influenciados por conseqüência da insatisfação do indivíduo com o suporte fornecido pelo seu grupo social. Segundo Rubin, Rubenstein, Stechler, Heeren, Halton, Housman e Linda-Kasten (1992), relacionamentos sociais construtivos com os membros da família e amigos, podem propiciar sentimentos de bem-estar no adolescente, o que é preventivo á depressão. Os relacionamentos pessoais, os primeiros relacionamentos seguros e a relação pais-criança durante a infância, propiciam um crescimento com sentimentos de maior auto-estima e auto-eficácia na vida de um indivíduo (Aro, 1994). De acordo com Birtchnell (1988), uma das hipóteses mais prováveis provindas da aprendizagem, sobre o suporte familiar e a depressão, é que relacionamentos pobres na infância e adolescência (pouco afeto provindo dos pais, estimulação, comunicação etc.) contribuem de forma significativa para a aquisição de personalidades vulneráveis, os quais auxiliam na propensão para a depressão e modelos insatisfatórios de relacionamentos.
Quanto maior a depressão apresentada por adolescentes,
maior foi o número de problemas que os mesmos tiveram na sua infância
Quanto maior a depressão apresentada por adolescentes, maior foi o número de problemas que os mesmos tiveram na sua infância, menor a percepção do suporte familiar e maior o uso de drogas, segundo pesquisa realizada por Windle (1991). Em geral, o comprometimento do bem estar dos pais debilita o sistema de suporte familiar. A depressão dos pais, conflitos familiares e infelicidades conjugais afetam negativamente a qualidade afetiva dos relacionamentos familiares e, particularmente, o relacionamento entre mãe e filha (Stoneman, Brody e Burke, 1989). Gavazzi (1993) relata que os níveis de tolerância das famílias em relação a individualidade e intimidade de seus filhos possui ligação com o futuro ajustamento pessoal do adolescente, além de correlação com as variáveis depressão e ansiedade. Este último estudo pode fornecer alguns indícios de que, quanto maior o controle da família em relação ao adolescente, menor a capacidade deste em desenvolver sua individualidade e, consequentemente, menor será sua capacidade de enfrentar sozinho os eventos da vida, ou seja, suas estratégias de enfrentamento nas situações. Nesta mesma direção, Sabatelli e Anderson (1991) estudaram os padrões de diferenciação entre os pais, entre pais e filhos, a dinâmica familiar e o nível de apoio experimentado dentro das relações familiares. Os resultados demonstraram que altos níveis de diferenciação entre pais e filhos foram associados à baixos níveis de depressão. Além disso, concluiu-se que as interações familiares e a rede de conecções sociais podem ser determinantes no desenvolvimento do ajustamento do adolescente. Baptista (1997) encontrou diferenças significantes com relação ao suporte familiar entre dois grupos de adolescentes, sendo que um dos grupos apresentava sintomatolgia depressiva. As mães, na opinião das adolescentes com sintomas de depressão, foram consideradas como mais rejeitadoras e indiferentes, além de tenderem a dar menos carinho para as filhas. Quando as mães dos dois grupos foram comparadas, em relação à própria opinião de suporte familiar que forneciam às filhas, as mães de adolescentes depressivas se auto-avaliaram como tendendo a serem mais superprotetoras do que as mães de adolescentes sem sintomas de depressão. Parece haver uma coerência teórica e prática em dizer que o suporte familiar pode ser considerado como um importante preditor de transtornos afetivos em crianças, adolescentes e adultos, pois ele influencia diretamente a forma como o indivíduo se auto-avalia e como avalia as informações provindas do meio exterior. Conclusões Há amplas evidências de que problemas relacionados á estrutura e suporte familiar estão relacionados à desordens psiquiátricas infantis (Wolkind e Rutter, 1990), especificamente aos transtornos de humor. Hoje em dia, não há mais dúvidas de que os transtornos de humor atingem tanto crianças quanto adolescentes e, o crescimento de pesquisas nesta área (Kashani, 1981) sugerem que a problemática é grave. As pesquisas sobre prevalência vem apontando, cada vez mais, um número relativamente alto de crianças e adolescentes com sintomas de depressão, o que leva a questionar quais os principais fatores ligados a estes dados. As rápidas mudanças sociais e, principalmente familiares, que estão ocorrendo atualmente parecem ter alguma relação com a prevalência de depressão na população adolescente. É claro que seria muito ingênuo pensar que somente estes fatores estariam contribuindo para isto, porém não deve ser desprezado que a família funciona como um colchão amortecedor para os eventos estressores, pelos quais os adolescentes enfrentam no seu cotidiano. O clínico e as autoridades ligadas a área de saúde precisam, desde já, estarem atentos e desenvolverem projetos ligados a prevenção de depressão em adolescentes, utilizando como um grande aliado, a família. Talvez, a medida que crescer o desenvolvimento de trabalhos psicológicos voltados para a comunidade, em seus locais de moradia e, não somente nos postos de serviços ou hospitais, diminua a probabilidade de ocorrência de sintomas de depressão nos adolescentes. Referencia Bibliografica: Estrutura e suporte familiar como fatores de risco na depressão de adolescentes
Comentários
Postar um comentário
Comentários obrigada