Psicologia
e problemas ambientais, um paradoxo?
Todos nós temos tido
contato com informações sobre os graves problemas ambientais que nosso mundo
enfrenta atualmente, se não por interesse profissional, possivelmente porque a
veiculação dos mesmos pela mídia causa repercussão social e garante audiência.
O crescimento populacional tem sido objeto de inúmeras
análises, sendo um dos eixos centrais da chamada crise ambiental.
Vale destacar aqui o fato de que durante 99,9% da história da humanidade fomos menos
de 10 milhões de pessoas habitando o planeta; só muito recentemente nos
aproximamos dos quase 6 bilhões atuais. Se, por um lado, tal fato ironicamente
demonstra nosso crescente sucesso como espécie reprodutora, por outro sugere
nosso total despreparo para lidar com 100.000 novos vizinhos (total de
nascimentos menos total de mortes), em média, por dia! Ou uma nova Argentina
por ano! A tendência da população mundial está sendo dobrar a cada 35 anos
aproximadamente ou, dito de outra forma, quadruplicar a cada 70 anos (Veitch
& Arkkelin, 1995, p. 230).
Se os números acima são
assustadores per se, suas implicações relativas às diferentes regiões do globo
são ainda mais preocupantes. Segundo dados da Conferência Internacional da ONU
sobre População e Desenvolvimento (Gonçalves, 1996), os países em
desenvolvimento são responsáveis por 95% do crescimento demográfico mundial, sofrendo
muito mais suas consequências sociais, econômicas e ambientais. A população do continente
africano, por exemplo, cresce a uma taxa média de 2,9% ao ano, enquanto que a
média na Europa é de 0,25% (negativa, portanto!), o que irá acentuar ainda mais
as diferenças de qualidade de vida entre as duas regiões.
Nossa América Latina
cresce, em média, 2,1% ao ano, mas nossos problemas se agravam ainda mais por
termos o índice de urbanização mais elevado do planeta (72%). O chamado êxodo
rural transferiu do campo para as periferias miseráveis de nossas grandes
cidades um contingente populacional deslocado tanto espacial, como temporalmente;
tanto social e econômica, como ideologicamente. O modelo hegemônico de
sociedade baseado no consumo de grande escala, desenvolvimento tecnológico e
exploração dos recursos naturais provoca profundos desequilíbrios em micro e
mega escala. América do Norte e Europa, com menos de 12% da população mundial,
consomem mais de 42% de toda a energia produzida no mundo, sendo responsáveis por
cerca de três quartos do efeito estufa antropogênico (Altvater, 1995).
O impasse de nossa
civilização frente à crise ambiental tem sido objeto da atenção de autores e
instituições cientificamente sérios e respeitados, pois negar a existência
desses problemas não irá melhorar, ou mesmo garantir, a qualidade de vida de
nossos netos. Lester Brown (1994), presidente do Worldwatch Institute, defende
que a saída para o problema do crescimento demográfico e degradação dos
sistemas naturais envolve planejamento familiar, melhoria do status da mulher e
adoção de estratégias de desenvolvimento que explicitamente incluam a redução
da pobreza.
A Psicologia recebe
muitas perguntas sobre o assunto (ainda que poucas se concretizem formalmente),
mas tem tido dificuldade em respondê-las de modo conclusivo e aplicável à
realidade ampla da crise humano-ambiental ou à orientação de intervenções sócio-ambientais
específicas (Pol, 1993; Stern & Oskamp, 1987).
Convém lembrar que a
Psicologia, como campo formal de atividade científica, esteve presente apenas
na porção mais recente da história da humanidade. Ela está no cenário mundial há
pouco mais de um século e, portanto, apareceu depois que a população mundial já
ultrapassara o primeiro bilhão. Se considerarmos também que a Psicologia, enquanto
prática profissional estabelecida, está restrita essencialmente às zonas
urbanas do planeta, talvez possamos concluir que nossa disciplina parece mais
ser parte do cenário da crise ambiental do que um agente de sua solução.
Preservação ambiental aparece no topo das prioridades
sociais e políticas nas pesquisas de opinião em vários lugares do mundo.
Principalmente agora, quando o assunto é discutido na Conferência de Copenhague
(COP15). Mas o abismo entre realidade e boas intenções é enorme. Em geral, somos todos defensores
da redução da poluição, mas infelizmente ainda são poucas as pessoas que reciclam
pilhas em vez de jogá-las na lata de lixo ou abrem mão do conforto do carro
particular por iniciativa própria, ainda que alguns dias por semana. É comum que os mesmos que
reclamam da má qualidade do ar e do trânsito em cidades como São Paulo se indignem
com o rodízio obrigatório de veículos e burlem a norma.
Por que palavras e
ações se contradizem tanto? Pesquisadores que estudam esse tipo de
comportamento afirmam que as únicas variáveis que contam para a maioria são
tempo e dinheiro. Qual o
preço máximo que as pessoas se disporiam, por exemplo, a pagar por um
combustível menos poluente?
Muito tem se
falado sobre meio ambiente, sustentabilidade, mudanças climáticas, consciência
ambiental, etc. E o que a Psicologia tem a ver com tudo isso uma vez que é a
Ciência que tem como objeto de estudo o comportamento humano?
Percebe-se que nos últimos anos muito das consequências da crise ambiental estão diretamente ligadas às ações, atitudes e comportamentos do homem na relação com o meio ambiente.
Percebe-se que nos últimos anos muito das consequências da crise ambiental estão diretamente ligadas às ações, atitudes e comportamentos do homem na relação com o meio ambiente.
O aumento repentino da temperatura planetária e das
alterações climáticas se deve à ação humana, com pouca contribuição ou
influência da natureza. Uma prévia do relatório anual da Organização
Metereológica Mundial, órgão da ONU, que avalia o clima na Terra, mostra que
2006 foi o ano marcado por recordes sombrios no terreno das alterações
climáticas e catástrofes ambientais.
O ser humano
está tão “conectado” na sociedade industrial, que cada vez mais perde o senso
de pertencimento à natureza.
Ora, se a Psicologia
tem como objeto de estudo o comportamento humano, sua relação com o meio
sócio-ambiental em que vive, como Ciência, não poderia se omitir num momento em
que o prognóstico da questão ambiental é assustador.
Há movimentos hoje, dentro da área, como fóruns, workshops, seminários abordando temas que envolvem sustentabilidade e meio ambiente. A Psicologia está sendo convocada a direcionar esforços e rever criticamente nosso comportamento em relação ao mundo natural. Como Ciências Humanas pode, e deve, contribuir numa atuação interdisciplinar considerando que a união de conhecimentos técnicos com os psicológicos possibilitam uma ação mais efetiva em projetos com objetivos de percepção, conscientização e mudança de comportamento das pessoas diante do ambiente que as cercam.
Há movimentos hoje, dentro da área, como fóruns, workshops, seminários abordando temas que envolvem sustentabilidade e meio ambiente. A Psicologia está sendo convocada a direcionar esforços e rever criticamente nosso comportamento em relação ao mundo natural. Como Ciências Humanas pode, e deve, contribuir numa atuação interdisciplinar considerando que a união de conhecimentos técnicos com os psicológicos possibilitam uma ação mais efetiva em projetos com objetivos de percepção, conscientização e mudança de comportamento das pessoas diante do ambiente que as cercam.
No
contexto organizacional, o profissional de Psicologia pode contribuir na
sensibilização e conscientização dos colaboradores, providenciando
desenvolvimento de gestores e lideres capazes de engajamento e comprometimento
com ações sócio-ambientais dentro do ambiente corporativo (não só no mundo cooperativo,
mas as pessoas em geral). Trazendo, assim, benefícios para a empresa no
sentido de diminuição do risco de responsabilização por danos ambientais;
melhoria na imagem institucional; redução de custos; aumento, nos
colaboradores, da consciência e motivação em cuidar da própria saúde ajudando
assim, na melhoria da qualidade de vida em geral; melhoria no relacionamento
interpessoal; incremento da produtividade; fortalecimento da auto-estima;
aperfeiçoamento da comunicação e outros.
A responsabilidade ambiental e social, são conquistadas primeiramente, por meio da responsabilidade pessoal.
A responsabilidade ambiental e social, são conquistadas primeiramente, por meio da responsabilidade pessoal.
Comentários
Postar um comentário
Comentários obrigada