ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO
Tende-se a procurar ajuda quando parecem ter se esgotado todas as possibilidades conhecidas, estagna-se o crescimento e faltam alternativas ante a situações importantes. O aconselhamento busca capacitar a pessoa a ter novamente o controle de sua própria vida, dominando situações e engajando-se na tomada de decisões ativando seu controle sobre as adversidades e ampliando suas oportunidades.
 O elemento mais fundamental neste processo é conhecer e reconhecer as informações sobre o “eu” de um indivíduo e sobre como as condições de seu ambiente influenciam nele, sejam elas sociais, econômicas, afetivas, dentre outras, fazendo com que a tomada de consciência desse processo seja ampla, pois a medida que passa a ter mais conhecimento de sua própria dinâmica, passa a ter mais controle sobre suas ações, necessidades, desejos e capacidades. Muito provavelmente a relação da pessoa consigo mesma tenda a ser melhor.
PRECEITOS FUNDAMENTAIS DA AJUDA EFETIVA: são norteadores que visam auxiliar oprocesso de ajuda.
1º preceito – Compreensão – é necessário ter uma compreensão total da dinâmica do indivíduo para então aplicá-la a circunstância de cada pessoa ou particularidade de um problema.
Compreender uma pessoa é traçar um diagnóstico, isto é descrever padrões significativos de comportamentos ou experiências afetivas e traçar um levantamento de hipóteses, isto é, fornecer explicações causais para esses padrões. Esse processo ratifica ou não as impressões de uma dada interpretação. Essa compreensão necessita estar apoiada em referencias que se justifiquem ou sustentem tais impressões. Contudo, é importante destacar que pessoas são diferentes e distintas e que até podem assemelhar seus comportamentos em semelhantes reações, mas existem situações que as tornam únicas em suas ações. Não se pode correr o risco de enquadrar ou padronizar comportamentos, criando rótulos ou correr o risco do erro de um diagnóstico.
2º preceito – Mudança no Cliente – o aconselhamento tem como meta básica proporciona uma mudança que a pessoa julgue necessária. Aqui mudança é a condição de se perceber uma experiência, ou mesmo, a alteração de uma sintonia. Pode ocorrer pela nova maneira de perceber a si mesmo, ou do significados sobre a vida, envolvem processos como superar a timidez, reduzir a ansiedade, controlar a raiva, reduzir conflitos interpessoais, cabendo uma condução consciente neste processo que embora seja difícil de documentar ou mesmo perceber se atingiu os resultados satisfatórios é importante pontuar com comportamentos anteriormente considerados indesejáveis.
3º preceito – A Qualidade da Relação – a relação de ajuda é importante para o crescimento e esse processo é acima de tudo um espaço de trocas, onde riscos são avaliados e se não houver confiança não haverá experiência. Esse espaço torna-se um campo onde a confiança, o respeito, a empatia, convivem com a inadequação, a fuga, a superficialidade, dentre outros. Os clientes buscam ajuda e os profissionais buscam desenvolver um ambiente que favoreça a comunicação e o entendimento profundo, fornecendo feedbacks a fim de oportunizar o entendimento mais pleno da própria dinâmica do cliente, para ele mesmo.
4º preceito – Um Processo Seqüencial – é a fase em que se caminha em direção a um resultado identificado. O foco consiste em como o entrevistado se sente e o que lhe trouxe. A escuta tem função de apreender, mais que identificar uma dada problemática, inclui o conhecimento de como o outro sente, vê e a percebe; oferecendo auto-consciência. 2
O entrevistador procura ajudar seu cliente sobre as condições de sua vida e relacioná-las as preocupações que resolveu trabalhar. O processo nesta fase, é caracterizado basicamente pela escuta atenta, a reflexão cuidadosa e a confrontação ocasional. Cabe ao entrevistador colocar em palavras. Esse processo poderá ser excitante ou desconfortável, dependendo do momento do entrevistado, cabe a ambos trabalhar juntos na construção dos objetivos a serem alcançados.
5º preceito – Auto-revelação Auto-confrontação – a ação de intervenção por parte do entrevistado favorecem a auto-revelação e auto-confrontação, para tal deve ser baseada na comunicação, através do que é dito, da emoção como é dito e pelo que escolhe ocultar. Quanto maior a revelação maior será a probabilidade de ajudar a descobrir recursos para lutas, desenvolvendo novas percepções sobre o “eu”, oportunizando feedbacks sinceros sobre o que foi expresso ajudando a ver-se em uma determinada situação em um panorama não considerado anteriormente, o mais livre de interesses pessoais. Seja de reafirmação ou de confronto devem desenvolver formas de ver e compreender o eu, fazendo emergir uma nova compreensão de necessidades, desejos e percepções pessoais e novas habilidades descobertas e aperfeiçoadas.
6º preceito – Uma Intensa Experiência der Trabalho – o encontro entre o profissional e seu cliente deverá se dar em um ambiente que demande um elevado desprendimento de energia, uma vez que o facilitador poderá ser tocado pela emoção do outro e até se perder nela. Já o cliente, para entender seu funcionamento, precisa se desprender suas emoções, sejam elas dolorosas, conflituosas, confusas, em fim, até conseguir a compreensão do veio buscar através do conhecimento e da ciência daquilo que por vezes tentou negar. Esse processo quase sempre é doloroso. O aconselhamento é diferente de uma conversa, pois apresenta uma intensidade mais elevada, num nível pessoal mais profundo e cuidadoso, onde idéias são desenvolvidas mais lentamente, por vezes numa ação de esgotamento tanto mental quanto emocional. Se não houver esforço pelo entrevistado, não haverá aconselhamento.
7º preceito – Conduta Ética – assumir o aconselhamento é adotar um comportamento ético. É fundamental que o cliente acredite na competência do profissional escolhido e ele terá o direito da livre escolha de mercado, desde que obedecida a legislação dos estabelecimentos e obrigações profissionais, a qualquer momento poderá descordar ou desistir do profissional ou do processo, não sendo adequado ao profissional: envolver-se com o cliente, apoiado em sua problemática, explorar o cliente, supervalorizar sua posição para tirar proveitos próprios, assumir compromissos sem a devida qualificação, falta ao sigilo ou respeito a seu cliente, excetuando em caso de risco pessoal. Tampouco, obrigar ou impor decisões ou escolhas profissionais.
Características de Conselheiros Eficientes
 São hábeis em levar à extroversão – são capazes de encorajar a pessoa a se comunicar de forma aberta e sincera, evitando bloqueios e defesas. São capazes de compreender não apenas o que é dito, mas o significado e a profundidade da fala, além de conter sua ansiedade enquanto ouve as preocupações e angústias do outro.
  1. Inspiram sentimentos de segurança, credibilidade e confiança nas pessoas que ajudam – os clientes sentem que na sua presença podem compartilhar sentimentos e preocupações de forma aberta sem constrangimento, ou medo de críticas e censuras com a garantia e a certeza do sigilo e da confiabilidade.
  2. São capazes de introversão e extroversão – são reflexivos e capazes de entender suas potencialidades e seus limites. Estão baseados no valor humano a fim de se lançar sem medo em novas experiências que auxiliem o crescimento, tendo a clareza de não se diluírem no processo. 3
  3. Transmitem interesse e respeito pelas pessoas que estão procurando ajudar – orientadores eficientes, oferecem tempo e energia aos outros, preocupam-se com o bem estar e o futuro, importam-se com a capacidade dos clientes em resolver e enfrentar seus problemas, acreditando no amadurecimento, crescimento e experiências pessoais, porém não são arrogantes, presunçosos ou indiferentes com quem estão tentando ajudar.
  4. Gostam de si mesmos e si respeitam, não usam a s pessoas para satisfazer suas próprias necessidades – toda pessoa necessita ser aceita, respeitada e identificada, contudo, isso não torna um conselheiro eficiente dependente, nem provocam o envaidecimento diante do processo de ajuda.
  5. Tem conhecimento específico em alguma área que será de especial valor para quem esta sendo ajudado – quando as pessoas necessitam de ajuda, dirigem aquelas que acreditam ter um sólido conhecimento sobre comportamento humano. Em alguns casos se faz necessário a desmistificação de crenças pré-estabelecidas, sem fundamentação. Importante para o profissional entender, por exemplo, de sexualidade humana, seus processos e efeitos fisiológicos e emocionais, gravidez, aborto, leis que regulam, dentre outros.
  6. Não impõe julgamentos de valores – apresentam tendências a aceitar comportamentos sem atribuir crenças, valores ou julgamentos, buscam também não se surpreender, chocar ou entusiasmar com determinados traços de seus clientes. Não rotulam nem classificam, aprendem a ver o mais humano em cada pessoa.
  7. Pensam em termos de sistema – precisam conhecer os diversos sistemas sociais que um cliente faz parte e como afeta e é afetado por estes. Isto é, a compreensão integral da pessoa dos níveis mais simples aos mais complexos.
  8. São contemporâneos e tem uma visão global de mundo – devem estar conscientes dos fatos importantes que afetam a vida e o mundo, inclusive a visão que os clientes possam ter deste processo e como projetam isso no futuro.
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São capazes de substituir comportamentos contraproducentes por gratificantes somente identificado os fatores positivos de uma situação é que se pode propor um modelo e uma visão mais positiva sobre a vida.
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Conseguem eliminar defesas e fazer o cliente olhar para si mesmo sem medos promovem uma tomada de consciência aberta e sincera dos aspectos da personalidade, inclusive os mais difíceis e que porventura exijam mudanças, desenvolvendo meios para a boa execução desses processos.
TERMINO NO ACONSELHAMENTO / DESLIGAMENTO TERAPÊUTICO
O processo de aconselhamento se inicia recheado de dúvidas, angústias e outros pontos que necessitam de um olhar (quiçá um ouvido) mais atento. Ansiedade, falta de confiança em si e no outro, são apenas alguns dos sentimentos muito presentes na etapa inicial deste processo. O desenvolvimento, inclui um intenso trabalho em torno de mudanças de comportamentos e desenvolvimento de habilidades no enfrentamento cotidiano de suas ações. Neste ponto o cliente já amadureceu seu lidar no mundo, com a vida e consigo mesmo. É chegada a hora da despedida. 4
A Etapa Final
Os pontos centrais do trabalho, acordados no início, precisam ser frequentemente analisado. Finalizada essa etapa é chegado o memento, em conjunto, de avaliar da manutenção do tratamento. É o momento de avaliar se melhorou a capacidade de lidar com a tensão e a ansiedade, se estão claras as expressões e planos para o futuro, se o cliente já se encontra mais confiante em si mesmo e se já responde de forma desejável as situações e desafios encontrados em sua vida. A avaliação deste processo pode se dar de maneiras distintas, isto é, através do próprio relato da percepção da pessoa na compreensão de sua dinâmica e de suas mudanças, do relato trazido pela impressão de terceiros sobre estes mesmos aspectos e pela própria observação do conselheiro ante ao enfrentamento de situações que em momentos anteriores, seriam vividas de forma crítica. Cabe ao conselheiro expressar seu apoio E encorajar a manutenção dessas mudanças e se for o caso, sugerir um encontro para a devolução desse feedback. Contudo, esse comportamento pode não ser visto de forma tão positiva assim por todos, é necessário ter a clara segurança de todas as etapas do processo. Alguns, mesmo tendo vencidos importantes obstáculos, podem não estar preparados para maiores desafios.
A Resistência
O tempo vivido no processo de aconselhamento, as revelações descritas e a intensidade com que a relação se estabeleceu, pode dificultar o desligamento para qualquer um dos lados.
Para o cliente, o conselheiro é visto como “ancora”, um referencial de apoio e segurança onde o alívio de seus conflitos e descarga de suas emoções, são vivenciadas a cada encontro. Abrir mão desse encontro para alguns é difícil, principalmente para aqueles que trazem uma história de solidão (por imposição ou por escolha).
Para o conselheiro o ato de cuidar, obter aceitação e receber reconhecimento por sua competência, representa um importante papel. Deixar essa posição de lado, para alguns, não parece ser uma tarefa tão simples. A perda deste referencial pode ser geradora de obstáculos ao afastamento. Seguem 8 razões pelas quais pode ser difícil, para o conselheiro deixar partir: 1 – quando o término assinala o fim de uma relação significativa; 2 – quando o término desperta as ansiedades do conselheiro em relação a capacidade do cliente em atuar independentemente; 3 – quando o término desperta culpa no conselheiro por não ter sido mais eficaz com o cliente; 4 – quando o autoconceito do conselheiro como profissional é ameaçado pelo cliente que parte abrupta e irritadamente; 5 – quando o término assinala o fim de uma experiência de aprendizagem para o conselheiro 6 – quando o término assinala o fim de uma experiência particularmente excitante de viver através das aventuras do cliente; 7 – quando o término se torna uma recapitularão simbólica de outras despedidas na vida do conselheiro e 8 – quando o término desperta no conselheiro, conflitos sobre sua própria individualização.
É bom lembrar que cabe ao conselheiro promover e estimular o crescimento e a auto-confiança e não bloqueá-los.
Finalizando Positivamente
Uma adequada finalização de um encontro precisa ser bem preparada e elaborada a fim de que não restem dúvidas a cerca da decisão a ser tomada pó ocasião do encerramento do encontro. O término não deve ser deixado para o último encontro, ambos (conselheiro e cliente) talvez precisem deste 5
tempo de preparação, é importante observar as evoluções e conclusões do tratamento, avaliar as conquistas e avanços pessoais atingidos pelo cliente para então encaminhar o direcionamento dos encontros para um encerrar de encontros, isso pode ser um processo de amadurecimento da relação profissional e pessoal de ambos, para isso seguem alguns importes passos a serem seguidos.
1 – esteja claramente consciente das necessidades e desejos do cliente – isso ajuda a não desenvolver ações de insegurança e dependência, fazendo com que aos poucos o cliente adquira auto confiança em “caminhar com suas próprias pernas”; 2 – esteja claramente consciente de suas próprias necessidades e desejos – é importante para que o conselheiro avaliar a qualidade do trabalho que esta oferecendo e o nível de qualidade e maturação embutidos neste ”produto”; 3 – esteja consciente de suas expectativas anteriores de separação e de suas reações interiores a essa experiência – e saiba que cada experiência é única, algumas podem ser mais simples que outras, mas o importante é entender que as pessoas podem opinar maduramente por suas próprias escolhas; 4 – peça ao cliente para dizer como se sente quanto ao término da experiência – é importante avaliar como o cliente se sente ante a este momento, faz parte do processo; 5 – diga a seu cliente, sinceramente, como você se sente como você se sente quanto a essa experiência de aconselhamento – esse processo pode ser salutar no enfrentamento da despedida, reafirmando a confiança adquirida ao longo do processo; 6 – faça uma revisão dos acontecimentos principais da experiência de aconselhamento – faça uma retrospectiva dos fatos mais importante, isso mostra o quanto você esteve atento aos diferentes momentos da vida de seu cliente, além de passar confiança profissional; 7 – reconheça aprobativamente as mudanças que o cliente efetuou – é reforçar a imagem de conquista, respeito próprio e entusiasmo pelas conquista adquiridas e 8 – deixe sempre um canal aberto – o final dos encontros não precisam representar o final do relacionamento, é importante mostrar que a atenção e o apoio podem sempre estar presentes, mesmo que em uma freqüência diferente. Encaminhamento
Alguns encontros podem chegar ao fim por diversas razões, algumas merecem um certo destaque: a inabilidade em atender – alguns casos desafiam o profissional que não se sente capaz de trabalhar com uma dada pessoa; incompatibilidade – existem situações em que tanto cliente como conselheiro não apresentam um bom raport ou por outras razões não estabeleceriam um bom trabalho e inadequação – existem casos em que não cabe ao conselheiro o cuidar da problemática ou mesmo quando esta é demasiada complexa ou mesmo aversiva segundo seus padrões pessoais, a todos esses casos cabe ao profissional sugerir e proferir encaminhamento a outros profissionais que estejam mais adequados ao acompanhamento das referidas demandas.
REFERÊNCIA PATERSON, L. E., ELSEMBERG, S. O Processo de Aconselhamento. Martins Fontes: São Paulo, 2003

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